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Além de corruptos parasitas, cínicos

21/11/2013
Além de corruptos parasitas, cínicos

O corrupto que, por natureza, é um parasita que suga o dinheiro público para seu enriquecimento privado, se torna ainda mais detestável do ponto de vista ético e social quando se converte também em cínico. “Cínico é uma pessoa desavergonhada, debochada, sem amor, sem pudor, descarado, alguém que não tem senso de respeito [pelos outros]” (Larousse).
Muitas pessoas se enquadram nesse figurino: “rouba” o dinheiro público, vive da malandragem, corrompe ou é corrompido, e ainda discursa, cheio de moralismo e debochadamente, contra os outros criminosos. Os corruptos e corruptores são as cloacas do Brasil que não deu certo. Esse Brasil atrasado está marcado pelo teocratismo, patriarcalismo, ignorantismo, parasitismo, selvagerismo e cinismo.
De acordo com a Folha (10/11/13, p. C3), um dos integrantes da máfia dos fiscais na Prefeitura de São Paulo (Amílcar Lemos), poucos dias antes de saber que estava sendo investigado, teria postado mensagem no facebook dizendo-se contrário ao indulto de Natal: “Sou contra o indulto de natal. Quem também é, compartilha”. Muita gente deve ter compartilhado a mensagem, incluindo-se alguns cínicos despudorados.
Como não seria assim? O primeiro ouvidor-geral do país também foi um corrupto?
Se os corruptos e corruptores, no Brasil, atuam com a mais absoluta sensação de que ficarão para sempre impunes, se a corrupção (entendida como prática criminosa que envolve agentes públicos e privados) nasceu com a construção do arremedo do “Estado Brasil”, em 1548 (tempo de Tomé de Sousa, Governador-Geral) e se o primeiro ouvidor-geral do Brasil, Pero Borges, para cá foi nomeado (em 17/12/1548) pelo rei depois de ter surrupiado grande soma de dinheiro na construção de um aqueduto, em Elvas (no Alemtejo) (veja E. Bueno, em História do Brasil para ocupados, organizado por L. Figueiredo, p. 259), como negar que pertencemos a uma cultura patriarcal desavergonhada, sem escrúpulos, sem pudor, debochada?
Dentro dessa cultura da impunidade, que é coirmã da “normalidade” da corrupção entre os agentes públicos e políticos (ressalvando-se poucos casos), como não poderia o corrupto ou corruptor ser também um cínico, que “é o homem que sabe o preço de tudo, mas o valor de nada” (Oscar Wilde)? Que sabe muito bem o preço da corrupção, mas nada faz para preservar sua honra, sua reputação, sua credibilidade.
Degeneração moral absoluta. Estágio avançado de putrefação cultural. A ponto de não se ver como mais um criminoso, até mais pernicioso do que muitos que se encontram recolhidos nas cadeias. Para o corrupto (parasita), os criminosos presos constituiriam a latrina mais desprezível da cloaca da criminalidade. Daí o seu cinismo lhe permitir pisar naqueles que supostamente estariam mais embaixo, num tipo de escala da criminalidade. O cínico é, antes de tudo, um moralista. Reivindica, em seu inconsciente, um certo status imunizador para o seu crime. Se é que, na nossa cultura, veja sua própria corrupção como um crime!
“Uma pessoa cínica, em sua totalidade, é inteligente e com humor elevadíssimo. Tem a capacidade de observar a realidade do ambiente que a cerca e de conhecer e perceber um acontecimento rapidamente. Não confia nas pessoas, na realidade, suspeita de todos. Muitas vezes o cínico trata as pessoas como se elas fossem simples objetos. Na realidade essa pessoa nega a si mesma”. Em uma entrevista para a revista Viver, de abril de 2001, o psicólogo Jadir Lessa explicou que “o cinismo é uma negação da natureza humana” (Fonte: http://familia.com.br/como-lidar-com-uma-pessoa-cinica).