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Mestre Guerreiro Nivaldo Abdias morre aos 81 anos, deixando legado à cultura local

23/07/2013

Cultura popular alagoana se despede do fundador do guerreiro Campeão do Trenado, da Chã da Jaqueira

Faleceu na sexta-feira (19), aos 81 anos, o mestre de Guerreiro Nivaldo Abdias Bomfim, o Mestre Nivaldo, do grupo de Guerreiro Campeão do Trenado. Nivaldo estava em casa, era diabético, e havia sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral). A causa da morte não foi divulgada. “Ele estava muito fraquinho e morreu de repente”, disse seu filho Cícero Abdias, mais conhecido por Cicinho, brincante também do guerreiro.

Mestre Nivaldo Abdias

O velório aconteceu em sua residência, na Rua do Sol, 17 A, Alto da Boa Vista, na Chã da Jaqueira, próximo à padaria Boa Vista, entrando na rua da quadra de esportes, e o corpo foi sepultado no Cemitério São Luiz, no bairro da Colina.
Em 2005, Mestre Nivaldo foi declarado Patrimônio Vivo de Alagoas, registrado no livro do registro do Patrimônio Vivo do Estado de Alagoas.
Nasceu no município de Palmeira dos Índios (AL), no dia 5 de fevereiro de 1932, filho de Habito Abdias Bomfim e de Francisca Belarmino Bomfim.
Seu amor pela cultura popular começou aos 8 anos, dançando no reisado da mestra Zefa Bispo e no guerreiro da mestra Joana Gajuru, no qual aos 12 anos tornou-se mestre.
Dançou e muito aprendeu com grandes mestres, como Adelmo Vieira/Atalaia e Zé Pequeno/Maceió. Participou, por vários anos, do guerreiro “Barreira Pesada”, coordenado por sua filha Iraci, no bairro da Chã da Jaqueira, onde morava.

    Legado

“Dos meus nove filhos, oito participam da brincadeira: meu filho Cícero faz os chapéus e os adereços e brinca na figura do Índio Peri, a minha filha Quitéria, que tem um bonito trupé, costura e borda toda a indumentária, minha neta Nadja, com apenas onze anos, sabe toda a parte da Estrela de Ouro e a Creuza, minha mulher, é a rainha de dentro de casa e do guerreiro”, dizia, orgulhoso, o mestre Nivaldo.
Com a mudança da filha Iraci para o interior do Estado, viu-se obrigado a formar seu próprio grupo. “Formei, há seis anos, o guerreiro ‘Campeão do Trenado’ e dei esse nome em homenagem ao meu grande amigo e mestre de guerreiro, Francisco Jupi, que tinha o apelido de ‘Campeão Trenado’”, contou o mestre, em uma das muitas entrevistas.
Mestre Nivaldo Abdias era um dos poucos mestres que mantinham a tradição de sair com seu grupo, em caravana, durante o período natalino, percorrendo  municípios do Estado, em apresentações. “É uma verdadeira aventura. Saímos sem destino certo, na maioria das vezes, sem nenhum acerto de apresentação, arranchados em lugares cedidos pelas autoridades do lugar ou embaixo de um pé de pau. Às vezes, passamos de 2 a 3 meses nessa peregrinação. Tem gente que até troca de mulher”.
Em 2007, seu afamado guerreiro “Campeão do Trenado” foi contemplado com o prêmio de Culturas Populares “Mestre Duda, Cem Anos de Frevo”, do Ministério da Cultura.
“Não tenho medo da minha brincadeira acabar, o guerreiro está no sangue da minha família, com a minha morte, com certeza, meus filhos e netos vão continuar”.